domingo, 4 de janeiro de 2009

Era algo que eu tentei evitar... mas enquanto me faltava inspiração para falar sobre outros assuntos, minha porção nerd falou mais alto e meu primeiro post oficial vai ser sobre não só uma, mas duas das minhas paixões: cinema e HQs.

Escrevi este texto para um tópico em fórum de discussão que participo. Acontece que ia colocar só uma breve opinião, mas me empolguei como sempre e... taí o resultado. O assunto: Procurado e sua fidelidade à fonte original.

"Sempre vamos entrar em discussão sobre se a adaptação de uma HQ para cinema ou outra mídia foi fiel ou não, se o filme passa a ser péssimo ao ignorar a história original, etc...
(In)felizmente, os quadrinhos já se tornaram fonte de inspiração - repito, INSPIRAÇÃO - para roteiristas de Hollywood, e nem sempre isso implica - ou, ouso dizer, exige - fidelidade ao texto original.
Digo isso porque boa parte dos filmes americanos são baseados em livros, mas apenas tendo aproveitados os conceitos básicos. E como nem sempre o livro em questão é um best-seller, o público não vai reagir apaixonadamente irritado se o personagem coadjuvante tem a cor dos olhos diferente do que é descrito no livro.
Exemplo bom: Jurassic Park e Mundo Perdido. Os livros contém ótimos pontos para reflexão sobre a ética científica, assim como a grande maioria das histórias de Michael Crichton. Mas alguém reclamou porque os filmes eram aventuras onde só tinha gente e dinossauro correndo de um lado pro outro? Não. Porque eram ótimos blockbusters (bom, o primeiro sim, mas o segundo... :-D ) Além disso, não sei como é nos EUA, mas alguém no Brasil leu Chrichton antes do lançamento destes filmes? Ou mesmo depois?
Com Stephen King é a mesma coisa. Tem sua legião de fãs - eu entre eles - mas dificilmente vc ouve alguém do grande público reclamando das mudanças nas adaptações de seus filmes. E olha que ainda estou dando exemplos conhecidos... se prestarmos atenção nos créditos de filmes, vai constar "Baseado num romance de..." e provavelmente vc nunca vai encontrar esse romance numa prateleira.
Com as HQs está se tornando a mesma coisa. Com personagens como X-Men, Aranha, Batman e outros, obviamente a coisa tem que ser fiel porque, além de atingir a nerdalhada - que, como eu falei, são (somos) capazes de virar hooligans se a capa do personagem se move diferente dos gibis - também vai alcançar o espectador médio que conhece por alto os desenhos animados e outras mídias em que eles tenham aparecido.
Mas e Wanted? Mesmo que Mark Millar seja um ótimo autor, quem havia lido Wanted antes de ouvir falar na adaptação do filme? A meia dúzia de leitores que comprou a mini lançada pela Mythos?
Pra mim, se Procurado fosse extremamente fiel à HQ, não teria um grande apelo junto ao público; seria mais um filme de super-heróis, e desconhecidos ainda por cima.
Diferente de algo como a Liga Extraordinária. A obra original está aí, aclamada por todo mundo, ganhando encadernações e continuações. Eu não li a HQ, então não posso opinar em matéria de fidelidade; mas o filme em si É um lixo. Se realmente não for fiel como dizem, a coisa realmente desanda, porque uma obra com esse status merece meeeeeeeeesmo algo bem-feito.
Por sua vez, Procurado é um ótimo filme, por ser mentiroso com estilo, do tipo que provoca gargalhadas e empolga a cada cena absurda. Não vai fazer você refletir sobre sua vidinha chata no escritório e não vai fazer você deixar de brochar diante de seu chefe. Mas você vai se lembrar dele mais do que muito filme de ação que você já viu.
E vc ainda vai fazer o download das HQs pra poder ler e ter autoridade pra reclamar. Afinal, mesmo com o sucesso do filme, alguém se interessou em republicá-la?"